Naviraí (MS): Após nova investigação, funcionária que dopava crianças em creche é presa
A jovem, de 26 anos, funcionária da creche clandestina em Naviraí, a 352 quilômetros de Campo Grande, foi presa nesta quinta-feira (27) após um período de investigação, que apontou indícios de sua participação nas agressões e torturas contra as crianças, além dela ministrar medicamentos não recomendados para as vítimas.
Em um primeiro momento, a funcionária havia sido presa, porém teve fiança arbitrada e pagou a quantia, tendo a condição de responder o processo em liberdade. Naquela altura, a Polícia Civil não tinha encontrado indícios claros de sua participação nos crimes contras as crianças.
Porém, as investigações não finalizaram após o encerramento do primeiro inquérito e foi juntado novos elementos que mostraram que a jovem, além de estar presente nos momentos em que a proprietária praticou as agressões físicas e verbais, omitiu-se em relação as torturas.A polícia também encontrou vestígios que indicam que a funcionária agrediu uma bebê e ministrava medicamentos sem prescrição médica e sem autorização dos pais. Dessa forma, a delegada do caso representou pela cassação da fiança e decretação de sua prisão preventiva.
O pedido teve apoio do Ministério Público e recebeu parecer favorável do Poder Judiciário para fins de garantia da ordem pública e resguardar eventual aplicação da lei penal. A cuidadora encontra-se recolhida em cela apropriada e está à disposição da justiça.
Proprietária presa
Caroline Florenciano dos Reis Rech, de 30 anos, proprietária da creche clandestina na cidade, já estava presa por ter sido detida em situação de flagrante. Além disso, o inquérito envolvendo sua participação havia sido finalizado e ela foi indiciada por tortura, maus-tratos e exposição da vida ou saúde de outrem a perigo direito, ou iminente.
As denúncias apontavam que pelo menos 20 crianças, na faixa de 0 a 7 anos, eram submetidas a tortura e situação de maus-tratos. Denominado Cantinho da Tia Carol, a creche nada mais era uma residência que prestava serviços de cuidados a crianças, sem fins educacionais e não possuía alvará de funcionamento.Os elementos probatórios coletados ao longo da investigação apontam que a proprietária agredia física e psicologicamente as crianças de maneira explícita, convicta da impunidade de cometer os atos ilícitos há meses, sem que nenhuma ação fosse tomada. Estava convicta nas dissimulações que fazia com os pais das vítimas e segura de que não seria descoberta porque boa parte das crianças sequer conseguia falar, já que eram bebês.
Entre as agressões narradas pelas testemunhas há relatos de tapas pelo corpo, pescoço, rosto, beliscões e puxões de cabelo. Os atos serviam para castigar e disciplinar as crianças, mas, as agressões eram imputadas a outras crianças ou a algum tipo de acidente doméstico, pela proprietária da creche, quando questionada pelos pais.
Alguns episódios relatados no inquérito chamaram a atenção da Polícia Civil durante a investigação. Em um deles, a proprietária do local teria esfregado a calcinha suja de fezes no rosto da vítima, de seis anos, portadora do espectro autista, a fim de puni-la por defecar e doutriná-la conforme seu método, tendo a criança relatado que a proprietária mandou que ela ainda comesse as fezes, mas a criança se negou.
Outro relato aponta que uma criança de três anos teria vomitado durante uma refeição e a proprietária teria esfregado o prato com o vômito no rosto da criança. Há ainda, relatos de que crianças faziam xixi na roupa, e eram colocadas em situação vexatória porque a proprietária obrigava as outras crianças a fazerem roda, bater palmas e os chamarem de ‘mijões’, além disso ameaçava de cortar o órgão genital das crianças caso voltassem a fazer xixi em seu colhão.
Houve relato de que uma das crianças teve a roupa molhada de xixi esfregada no rosto como forma de castigo. De acordo com o relato da mãe de uma das crianças, de sete anos, a filha contou que devia ficar sentada assistindo tv, porque se fizesse bagunça a proprietária iria deixá-la de castigo, ajoelhada no milho até o joelho sangrar.
Algumas mães apresentaram filmagens onde os filhos aparecem em estado de sonolência induzida. O laudo pericial de vistoria no estabelecimento constou que em relação ao medicamento apreendido, que foi flagrado sendo ministrado pela cuidadora, que confirmou ter ministrado 20 gotas, a uma bebê de onze meses, é contraindicado para menores de 02 anos e é destinado ao controle de enjoos, vômitos e tonturas de diversas origens.
As investigações devem continuar, inclusive, porque algumas crianças que foram citadas como vítimas, ainda não foram identificadas.
quinta-feira, 27 de julho de 2023