Rio Verde-MS: Cantora de Rio Verde de Mato Grosso lança single
Aos 22 anos, a jovem Bela Rio assinou contrato com selo fonográfico de São Paulo e prepara show em Campo Grande, além de EP - THINK DESIGN |
Tudo parece ser bem simples, fortuito e bastante promissor na trajetória da cantora Bela Rio. Nascida em Rio Verde de Mato Grosso, Isabela Souza de Paula viveu na cidade, a 200 quilômetros de Campo Grande, até os 18 anos, quando se mudou para a Capital. Corta para o presente, agosto de 2022.
Bela agora vive na serra catarinense, no município de Lages (SC), e está às voltas para conciliar a carreira musical com a faculdade.
É que a jovem, atualmente com 22 anos, tem de administrar a agenda de artista ao mesmo tempo que precisa dar conta das aulas e de outras obrigações do curso superior de Medicina Veterinária, que a cantora classifica como um dos seus sonhos. E a música?
“Com 16 anos, resolvi começar a tocar porque eu gostava de cantar”, diz Bela, que lança mais um single, “Me Beija Flor”, em seu canal no YouTube e em outras plataformas digitais, nesta sexta-feira. A canção, um pop-reggae agridoce sobre “meninas da minha faixa de idade que engravidam e se prendem a caras imaturos, irresponsáveis e tóxicos”, é uma das cinco faixas da parceria com Jerry Espíndola.
BOCA A BOCALançada em junho, a balada “Inevitável Sim” foi o primeiro single. A canção, com letra de Espíndola e Márcio de Camillo, foi caindo no gosto do boca a boca que faz milagres, em termos de audiência, nas redes sociais, e atingiu mais de nove mil visualizações um mês depois de ganhar a vitrine do YouTube.
O diálogo criativo com o músico talvez justifique o que se pode ver de “fortuito e bastante promissor” na caminhada de Bela.
A aproximação dos dois parece aqueles esbarrões casuais que costumam acontecer nas redes sociais e que muitas vezes não dão em nada. No caso deles, deu em muita coisa. “Live das Estrelas”, primeira parceria da dupla, chegará às plataformas no dia 22.
E, até dezembro, virão mais novidades. Novos singles estão previstos, e um show em Campo Grande está sendo maquinado para o mês de outubro. Tudo com as bênçãos de Jerry, que, apesar de seguir dando uma baita força aos que começam na cena independente, foge de assumir a vocação para “godfather” (“padrinho”, em inglês), preferindo ser chamado apenas de parceiro.
“Um ano em Campo Grande foi o suficiente para me conhecer e conhecer um pouco do que é o mundo fora do ninho. Apanhei muito e aprendi a voar”, avalia Bela, sem esconder um tanto de empolgação. “Logo conheci o Jerry, quando iniciei minha transição para o pop MPB, e escrevemos nosso primeiro som, que foi o primeiro passo de um projeto que iria longe. E foi onde me encontrei”, conta.
CONTRATOO encontrar-se passa ainda por outras portas que foram abertas por intermédio da rede de contatos do amigo mais velho, a exemplo do contrato assinado com o selo fonográfico Phant Music, pilotado por um trio de músicos de São Paulo que acumula milhas e milhas de quilometragem: Carlos Bordeaux, que também é médico, o tecladista Paulo Vaz (Supercombo) e o produtor Tadeu Patolla.
Guitarrista de bandas descoladas e potentes dos anos 1980 que acabaram ficando na sombra do showbiz do então emergente rock nacional, a exemplo da Lagoa 66, Patolla apostou na carreira de produtor na década seguinte e cometeu a proeza de revelar muita gente boa, incluindo na lista o Charlie Brown Jr.
“Meu pai é natural de Santa Catarina, onde moro atualmente. Joguei a faculdade para cá. Quando vim para Lages, Jerry chegou até um antigo amigo [Tadeu Patolla] e mostrou nosso trabalho autoral. Ele gostou, logo fechamos com o Phant Music e demos início aos trabalhos. Gravamos cinco músicas autorais e cinco covers de grandes músicos”, resume Bela.
“No início, foi tudo bem louco. Sempre acreditei no meu potencial, mas quando me peguei voando de avião pela primeira vez a trabalho da música, foi uma emoção muito grande. Imaginar que as pessoas gostam e apostam em mim, na mensagem que minha voz e minhas canções podem levar para as pessoas”, diz a cantora.
“No início, eu vivia colocando defeitos na minha voz, pensava que estava pagando mico, por nunca ter feito uma aula e não saber se o que eu faria era bom ou não. Ser artista no Brasil é um desafio. Hoje, tento conciliar uma paixão com a outra, mas, quando se nasce artista, mais difícil que ser um é não poder ser”, filosofa a jovem intérprete, que deseja “envelhecer moça como Rita Lee”, usa piercings e tem o corpo forrado de tatuagens.
“Gosto de chamar atenção, sendo uma boa leonina [do dia 18 de agosto]. Hoje, me sinto bem com o que sou. Tento ser sempre mente aberta com o novo, ignorância é o que nos deixa velhos”, alfineta a promessa rioverdense, que também se declara fã de um “rapaz latino-americano”, e cearense, que escreveu e cantou canções geniais.
“Meu cantor preferido é Belchior [1946-2017]. Tenho até uma tatuagem com uma frase dele que amo, ‘enquanto houver algum modo de dizer não, eu canto’. Era um artista que sabia expor o pensamento e os sentimentos de um artista”, comenta Bela.
PAI E AVÔ“Acho que meu interesse pela música começou com meu pai, que tinha um violão em casa que às vezes ele arranhava. E tinha aqueles livros de cifra que comprava em banquinha. Eu sempre olhava aquelas cifras e meu pai tocando, achava lindo, mesmo ele sendo péssimo”, conta a cantora, deixando escapar uma risada.
“Meu finado avô também costumava tocar. Tenho a imagem dele tocando violão para mim à noite no escuro, somente com a luz da sala que saía pela porta”, afirma Bela.
As reminiscências avançam do bucolismo de família para nomes bombados da música popular, juntamente com a iniciação na prática do violão.
SERTANEJAS E ALÉM“Anos depois, comecei com o sertanejo, tendo referências femininas de Marília Mendonça e Maiara e Maraisa, por conta da potência vocal. Condizia com o meu estilo da época”, comenta. Com a guinada na carreira, o interesse de Bela tem se expandido para referências bem diversificadas.
“Além das autorais, gravamos um acústico de covers de artistas incríveis, como Lulu Santos, Nana Caymmi, Liniker e Lô Borges. Escolhi Nana Caymmi por conta de mamãe gostar e cantar para mim desde pequena. Lô Borges aprendi a gostar por conta do Clube da Esquina, e Liniker é uma excelente artista, cheia de representatividade”, diz.
“Então são esses cantores de uma MPB mais antiga e atemporal, interpretados em um pop atual acústico, misturados com uma canção da Liniker. Acho importante manter raízes e inovar sem deixar de ser bom. A session está incrível, acompanhada pelo Jerry e pelo Guilherme Cruz, que hoje toca com Almir Sater”, elogia a cantora.
“Estamos chamando a galera nova para conhecer também a MPB raiz por meio de mim. Isso é bem legal, tenho amigos sertanejos que dizem hoje que ouvem MPB por minha causa. É meu trabalho sendo bem passado”, finaliza a cantora.
PADRINHO NÃO, PARCEIROJerry Espíndola diz que os padrinhos são sempre necessários para quem está começando. “Já tive os meus e me sinto muito feliz quando posso ajudar algum artista novo, porque todos nós precisamos de alguém que nos incentive e acredite”, afirma o cantor e compositor, que volta e meia pilota projetos que mobilizam, e favorecem, artistas independentes em começo de carreira.
O músico rechaça apenas o lugar por demais sacralizado que a condição de padrinho normalmente lega a quem recebe a outorga. “Padrinho não, parceiro”, adverte Jerry, aos 57 anos, na sua maciota habitual.
“Nesse caso, nossa diferença de idade acaba virando a fórmula perfeita. A experiência que eu já tenho e a garra de uma artista começando, para a gente, caiu como uma luva, deu liga à nossa parceria. Gosto muito das músicas, estou muito feliz com o resultado do EP. Acho que a Bela vai surpreender”.
Correio do Estado