VAI VIAJAR PELO BRASIL DE CARRO? ALGUMAS DICAS DE QUEM JÁ RODOU PELAS ESTRADAS DE 20 ESTADOS
E já estamos em outubro de 2021, e a vacina deu uma trégua na pandemia causada pelo novo coronavírus, com dólar a quase R$ 6, o que inviabiliza aquela viagem com a família para o exterior, mesmo que grande parte dos aeroportos já estejam liberados (ou em fase de liberação). Com esse cenário, fica difícil pensar em comprar passagens aéreas, mas quem sabe visitar seu estado de origem, aquele parente ou amigos que você não vê faz tempo, ou mesmo conhecer lugares novos, não é mesmo?Como a grana tá curta e a turma é grande, o jeito é pegar a estrada, e eu vou dar algumas dicas e fazer observações importantes para você que vai encarar o estradão. Eu já rodei, de carro, por 20 Estados mais o Distrito Federal. Isso se deve pelo fato que detesto aeroportos. Gosto de voar, acho incrível podemos economizar tempo, mas o stress dos aeroportos, a chatice de chegada, pegar táxi, Uber e aquele atropelo com malas, enfim, um cenário que não me agrada. Por isso, sem priorizei viajar de carro, seja a lazer ou a trabalho. E como meu trabalho é escrever, posso fazer isso de onde eu estiver.Se você vai pegar a estrada, nem precisamos falar sobre o básico, oléo, pneus, freios, correias e filtros. Sem olhar isso, não se atreva. Você coloca sua vida em risco, a de terceiros e quem mais estiver no carro.
Vamos as dicas:
Conheça seu carro. É primordial que você conheça os limites de seu veículo. Seja ele um Celta 1.0 ou uma Mercedes. Você precisa saber do que ele é capaz, como reage em ultrapassagens, qual o consumo vazio e cheio, a suspensão suporta o peso extra? Nada disso é empecilho para você pegar a estrada, mas é necessário que você conheça bem o seu parceiro de viagem. Vai fazer toda a diferença. Já peguei estrada com praticamente todo tipo de carro, de Fiat Uno Mille a Hilux, passando por BMW, Pajero, Triton, Corolla, Fiesta e Corsa. E foram viagens incríveis, dentro e fora do Brasil, mas em cadas uma delas eu tentei saber o máximo sobre os carros. Se possível, na semanas que antecedem sua viagem, pegue algumas estradas próximas, ande 100, 150 km, principalmente se for a primeira vez que você vai encarar o estradão. Faça ultrapassagens, veja como seu carro responde em curvas, tente tirar a média de consumo. (Caso você tenha dificuldade em obter a média ou não sabe como, é relativamente simples. Com o tanque seco (ou na reserva) abasteça R$ 50, anote quantos litros foram colocados e zere o odômetro. Rode com o carro na estrada até que o marcador fique na posição que estava antes de você abastecer. Divida a quantidade de litros pela de quilômetros que você rodou e o número é a média).
Evite rodar após as 19 horas. Se o percurso for longo (por exemplo, de Porto Velho à Brasília – 2.524km – 37 horas). Evidente que esse tempo seria tocando direto, o que não é o caso. Como você vai estar saindo de casa, tente fazer isso o mais cedo possível, ideal é por volta das 4h30min, então durma cedo na véspera, quando acordar tome um café bem forte, coma frutas, algum sanduíche leve e quanto antes sair, melhor. Você evita o trânsito da cidade o dia vai render mais.
Conforto é tudo. Se você viaja com crianças (em 2012 fui de Porto Velho a Arraial do Cabo – RJ – 7.450 km ida e volta) com meus dois filhos e meu irmão. Na bagagem, travesseiros, tablet, notebook para que eles se distraíssem (tinham 6 e 11 anos). Lugar de mala é no porta-malas, os bancos traseiros devem estar o mais desocupados possível.
Quem viaja com pressa não conhece nada. Esqueça prazos. Se você vai encarar 2, 3 mil quilômetros de estrada não pode ter pressa. Pare nos locais que achar interessante, estique as pernas, descanse um pouco após as refeições e tente não se irritar com brincadeiras, falação dentro do carro. Concentre-se na estrada e tente aproveitar o visual.
Lanterna é vida. Hoje em dia muita gente não tem lanterna porque usa a do celular. Tenha uma lanterna, de preferência à manivela ou que carrega no carro. Pilhas costumam nos deixar na mão e o celular pode ser necessário para uma emergência. Então tenha sempre uma à mão.
Papel higiênico e lenços umedecidos. Nem todo posto tem papel higiênico e nem toda estrada tem posto. Leve pelo menos dois rolos, um pacote de lenços umedecidos e se puder, até aqueles protetores de vaso sanitário. Leve ainda antiácidos, aspirina, remédio para dor de cabeça e um anti-térmico.
Evite maioneses e sobremesas. Não estrague seu roteiro com uma infecção intestinal. Tente evitar comidas gordurosas demais, feijoadas, rabadas, maionese, por mais tentador e bonito que esteja a apresentação. Peixes e frutos do mar também são dispensáveis. Deixe para comer isso na casa da sogra, quando chegar.
Conheça o roteiro. Use o Google Maps, veja onde você vai ficar pelo Street View. Calcule mais ou menos quanto tempo você vai levar do ponto A ao ponto B, para que você consiga parar por volta das 19 horas (ou antes, se o próximo ponto for muito distante). Não vale à pena ‘ganhar uma horinha’’ se você estiver cansado demais.
Leve pelo menos R$ 300 em dinheiro. De preferência dinheiro trocado. Os pedágios não aceitam cartões, algumas borracharias também não, então é importante você ter uma reserva em espécie para emergências. Onde puder, pague com cartão.
Capitais são complicadas. A passagem por grandes cidades é sempre tensa. Você não conhece rotas, perde saídas, confunde ruas. Tente manter a tranquilidade, e se for possível, programe-se para passar pelas capitais durante o dia, principalmente se você não conhecer o lugar. E tem locais que podem lhe custar a vida. Portanto, verifique o trajeto no Waze e Maps, condições de trânsito e arme-se de paciência. Passar por São Paulo é complicado, já tive que dar voltas de 40km por ter perdido uma entrada. Se for horário de pico, pior ainda, é engarrafamento na certa. E se estiver chovendo então… Passagem por Recife também tem trânsito intenso. Rio de Janeiro é tenso por conta da violência, falta de informações claras. Cuiabá, voltas e mais voltas em trechos disputando com carretas enormes. Se for período de safra de soja, pior ainda. Goiânia e Brasília são relativamente tranquilas. Belo Horizonte, vai depender do horário e do clima. Com chuva, pesadelo. Salvador, trânsito apertado, mas sem sobressaltos. No sul, Curitiba, passagem relativamente tranquila, o mais intenso vai ser nas saídas para o litoral. Porto Alegre, intenso, tem que ter atenção e olho no GPS.
O que sobra no Sul e Sudeste, falta no Norte e Nordeste. O Brasil é um país imenso, e tem suas peculiaridades. Se você vive na região sudeste e vai para o Nordeste, vai estranhar bastante a falta de pontos de apoio nas estradas. Na Bahia é bem complicado, você roda quilômetros sem um restaurante ou posto, portanto, nunca deixe de abastecer. Não deixe que seu carro entre na reserva. Abasteça pelo menos a cada 300 km. Combustível é melhor sobrar que faltar. Se for possível (couber) leve uma térmica, com sanduíches, água, sucos ou refrigerantes quando seu destino for as estradas do Nordeste, Centro Oeste ou Norte. Entenda, não é que não existem postos ou comida. Em alguns trechos vai ter, mas em outros não. As estradas no Sudeste contam com grandes redes com praticamente tudo que você precisa. No Nordeste, Norte e Centro Oeste também tem, mas as distâncias são muito maiores.
Facilite a retirada do estepe. É muito importante quando você for viajar de carro ter em mente que, apesar de não estar pagando pelo ‘excesso de bagagem’, os espaços são preciosos. Na hora de organizar as malas, tente deixar o estepe o mais acessível possível. Nada pior que ter que descer todo o porta-malas na beira da estrada. Evite sacolinhas, bolsinhas, caixinhas, tudo que for “inho”. Essas coisas atrapalham demais, e sempre correm o risco de caírem na hora do perrengue. Pense você debaixo daquele sol, depois de ter trocado um pneu se vai querer ficar recolhendo coisinhas espalhadas. Melhor usar malas maiores e os “inhos” e “inhas” dentro delas. Solto, só o essencial.
Internet nas estradas. Atualmente grande parte das estradas brasileiras estão cobertas por sinal de operadoras de telefonia. Mas também temos um hiato gigantesco em todo o país. Em alguns locais, a internet é apenas uma lenda que está ali, no cantinho superior direito do seu aparelho, mas navegar mesmo, nada. Então, configure seu GPS para navegação offline, e quando entrar em uma grande cidade, ou região com cobertura boa, reinicie seu aparelho. A internet é melhor nas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste. No Nordeste a cobertura é boa nas capitais e entornos. Se você for percorrer o interior, vai sofrer um pouco. Na Bahia, por exemplo, região da Chapada, Morro do Chapéu, região do semi-árido, em alguns locais sequer tem sinal. O mesmo vale para o interior de Pernambuco e Ceará. Em Alagoas funciona bem. Se você usa iPhone, tenha sempre à mão o cabo de carregador, principalmente quando for passar o dia em praias, normalmente esses locais só tem cabos de carregamento de celulares Android.
Conheça o local para onde vai. O clima é fundamental em viagens pelas estradas brasileiras. A região serrana do Rio de Janeiro, por exemplo, chove e faz frio, diferente da região dos Lagos. Porém, as praias de Cabo Frio e Arraial do Cabo, por exemplo, tem águas geladas. No nordeste o mar é sempre quente. Em Balneário Camboriú, Florianópolis, Itajaí e região o mar tem variações de temperatura, assim como o clima. Tem períodos do ano que chove e faz frio de bater o queixo, e no verão é um calor de rachar. Se você viaja com a família é importante observar as peculiaridades de cada região. Também é interessante se informar sobre as praias, se são indicadas para crianças, se tem rede de atendimento de saúde, se seu plano atende naquela região e onde para evitar ficar perdido numa emergência. São informações que parecem óbvias, mas muita gente ignora.
Bom, esse é um resumo de coisas importantes a serem observadas quando for pegar a estrada em trechos longos, mas valem para qualquer trecho. Caso você queira saber algo, tenha algum questionamento, mande nos comentários que vamos respondendo.
sábado, 16 de outubro de 2021