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quinta-feira, 27 de maio de 2021
RIOVERDEMS | Por PORTAL RIOVERDE NOTICIAS

Sangue de porco, pena de galinha e orelha de boi viram farinha e pincel; restos rendem R$ 8 bi a empresas




 O Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal do mundo, com um rebanho de 213 milhões de bovinos, 40,6 milhões de suínos e cerca de 1,6 bilhão de aves comerciais. Mas nem só de carnes vive o setor frigorífico.

Nas indústrias do setor, a reciclagem animal é um lucrativo e sustentável negócio que, em 2020, movimentou R$ 8,3 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Reciclagem Animal (Abra) com a transformação de 13,5 milhões de toneladas de resíduos. E a expectativa é que, neste ano, o setor supere os resultados, com a abertura de novos mercados externos.

Ossos, vísceras, couro, penas, casco, chifres, gorduras e sangue, um conjunto que compõe, em média, 30% do peso dos animais, são transformados por indústrias especializadas em farinha, gorduras, gelatina e hemoderivados (derivados de sangue).

Esses materiais servirão de matérias-primas para segmentos que produzem itens da rotina da população, mas que poucos se dão conta: ração para pets e animais de criação, produtos de limpeza, cosméticos, biodiesel, energia e medicamentos.

A reciclagem animal transforma 100% dos resíduos gerados pela cadeia da pecuária bovina, avicultura, suinocultura e piscicultura. "É um setor que não tem controle da quantidade de matéria-prima, pois depende do abate de animais pela indústria frigorífica, mas tudo o que é gerado, é transformado", declarou o presidente da Abra, Decio Coutinho.

Restos viram ração, produto de beleza e combustível

O segmento de reciclagem animal aproveita tudo o que é descartado em frigoríficos e açougues. Do abate de bovinos, 38% são resíduos, sem contar o couro; dos suínos, 20%; das aves, 28% e dos peixes, 45%.

Os materiais são transformados principalmente em dois produtos, farinha proteica e gorduras, que são matérias-primas para a indústria de comida de pets (13,4%), rações para animais de produção (55,5%), saboaria (13,7%), biocombustíveis (13%), entre outros.

O processo funciona assim: os resíduos são coletados nos frigoríficos e em açougues até 24 horas depois do abate dos animais e transportados em caminhões vedados até as recicladoras.

De lá, seguem para a área de recebimento, onde são triturados e, posteriormente, aquecidos para eliminar contaminações. Água e gordura são separadas da matéria seca e cada item segue para setores diferentes.

As partes sólidas são prensadas, moídas e transformadas em farinhas, embaladas e direcionadas às indústrias de rações, enquanto a gordura é decantada e processada, armazenada em tanques para, finalmente, seguir o rumo das usinas de biocombustíveis ou indústrias do ramo de limpeza, beleza e farmácia.

Cascos e chifres moídos são enviados a indústrias químicas. Já o couro vai para fábricas de revestimentos ou calçados.

Produtos reciclados são usados de volta na pecuária

De acordo com a Abra, as 13,5 milhões de toneladas de resíduos gerados pela indústria frigorífica em 2020 geraram 5,7 milhões de toneladas de farinha proteica e gorduras.

Mais da metade desse volume voltou para a cadeia produtiva da pecuária, em forma de rações, para animais de criação (para suínos, aves, peixes e crustáceos, exceto ruminantes) e o setor de biocombustíveis, com a produção de biodiesel, que é misturado à gasolina.

"É um dos setores mais sustentáveis da cadeia produtiva, que retira da natureza toneladas de resíduos", disse Coutinho. "O que não volta para a fazenda vira biodiesel, que é utilizado na frota que leva os produtos até a fazenda."

Coutinho afirmou que, mesmo com a pandemia, em 2020 a movimentação no segmento se manteve estável, e em 2021, o comportamento do mercado tende a se repetir, com um faturamento perto de R$ 9 bilhões.

"Houve um considerável aumento no consumo de carnes de aves e suínos, a manutenção do consumo de pescados e uma queda no consumo de carne bovina", disse. "No entanto, a demanda elevada dos países asiáticos impulsionou o abate e a geração da matéria-prima para a reciclagem animal."

A alta dos custos de produção da soja e do milho também fez com que a demanda por farinhas proteicas se mantivesse alta no mercado. "A farinha proteica é uma alternativa para o produtor rural reduzir o custo de produção."

quinta-feira, 27 de maio de 2021

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