A fome avança no Brasil assolado pela pandemia
Moradores de rua fazem fila para receber alimentos no centro de São Paulo, em 23 de março de 2021 - AFP
Nas barracas de distribuição de alimentos para moradores de rua em cidades brasileiras, cada vez mais surgem necessitados e as filas aumentam. A fome está avançando junto com a pandemia, que não dá trégua.
No centro de São Paulo, o aposentado Miguel da Silva já tem nas mãos um prato de arroz, verduras e proteína animal, depois de fazer fila com cerca de 300 pessoas, a maioria mendigos.
“É melhor vir aqui do que estar pedindo” na rua, confessa este senhor de 70 anos, que afirma que sua pensão foi desviada e o pouco dinheiro que recebe é usado para pagar o aluguel.
Sob o sol implacável do Rio de Janeiro, Mario Lima espera sua comida, rodeado por centenas de idosos, grávidas e moradores de rua. Para muitos, será a única refeição do dia.“Tudo está caro. A alimentação que dão aqui todo dia, se for comprar, dá mais de mil reais por mês”, diz Lima, de 72 anos, a quem o salário mínimo (R$1.045) que recebe como aposentadoria, mal dá para o aluguel e algumas despesas básicas.Miguel e Mario são apenas duas faces do empobrecimento da sociedade brasileira em tempos da covid-19, que já deixou mais de 317.000 mortos e milhões de desempregados, novos pobres… E famintos.
– “Está piorando” –
A pandemia acentuou uma tendência dos últimos seis anos no país, grande produtor mundial de alimentos.
Em meados de 2020, o chefe do Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil, Daniel Balaban, alertou que o Brasil caminhava a “passos largos” para retornar ao mapa mundial da fome, do qual saiu em 2014 e ao qual entram os países com mais de 5% da população em extrema pobreza.
O Banco Mundial estimava então que 5,4 milhões de brasileiros se enquadrariam nesta faixa em 2020, para um total de 14,7 milhões da população de 212 milhões de habitantes.
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sexta-feira, 2 de abril de 2021