Movimento alerta empresas sobre anúncios em sites com fake news
Criado nesta semana, o perfil brasileiro do movimento Sleeping Giants já está fazendo barulho entre anunciantes e políticos. Inspirado no modelo norte-americano, a iniciativa foi criada para alertar empresas sobre a veiculação de anúncios automáticos em sites extremistas ou que contenham notícias falsas.
Em apenas uma semana, o movimento conseguiu a promessa de retirada de anúncios de pelo menos 5 empresas que faziam propaganda no site Jornal da Cidade Online, acusado de publicar notícias falsas e informações distorcidas. O perfil do movimento no Twitter alcançou 100 mil seguidores em apenas 5 dias, depois de ter sido divulgado por personalidades como o influenciador Felipe Neto e o apresentador Luciano Huck.
1) Isso tá DEMAIS! Segue o fio!
Existe um portal de notícias de extrema direita, mto popular, que lucra mto dinheiro com anunciantes pelos banners automáticos do Adsense.
Aí, nasceu a @slpng_giants_pt pra avisar às grandes empresas q seus anúncios apareciam nesse site.
Dell, rede Telecine, Submarino e Banco do Brasil foram algumas das primeiras empresas a retirar anúncios de veiculação a partir das denúncias do movimento. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul ordenou a exclusão de anúncio publicitário da Corte que estava sendo veiculado no Jornal da Cidade Online. O Telecine, primeiro anunciante a responder diretamente ao perfil, anunciou que já havia pausado a campanha denunciada e que iria "analisar todos os portais que estão veiculando o anúncio". "Somos totalmente contra a disseminação de fake news e precisamos, juntos, combatê-la", disse o canal em sua rede social.
Hello dona @redetelecine , tudo bom? A jornalista @nilmoretto não vai gostar de saber que seus anúncios estão no site Jornal da Cidade, site famoso por espalhar desinformação e atacar constantemente a democracia. Pls considere bloquear #SleepingGiantsBrasil
Obrigado por nos informar. Já pausamos a campanha, que funciona de maneira automática, e vamos analisar todos os portais que estão veiculando o anúncio. Somos totalmente contra a disseminação de fake news e precisamos, juntos, combate-la.
A Dell, por sua vez, informou que solicitou a retirada dos anúncios automáticos assim que recebeu essa informação, além de declarar que "repudia qualquer disseminação de notícias falsas".
Oii @DellnoBrasil, tudo bem? Realmente seus notebooks são incríveis, só não acho legal divulga-los em site famoso por espalhar Fake News e atacar constantemente a democracia. Pls considere bloquear#SleepingGiantsBrasil
Assim que recebemos essa informação, solicitamos a retirada dos anúncios automáticos. Repudiamos qualquer disseminação de notícias falsas.
A Samsung, por sua vez, disse que reitera seu "compromisso ético com a transparência e reforço que não compactua com a disseminação de notícias falsas", mas não avisou se retiraria a publicidade do site.
Oii @SamsungBrasil, tudo bem? Eu juro que queria descobrir tudo sobre o seu novo celular, mas jamais imaginaria que seria através de um site famoso por espalhar Fake News e atacar constantemente a democracia. Pls considere bloquear!
#SleepingGiantsBrasil
Reitero meu compromisso ético com a transparência e reforço que não compactuo com a disseminação de notícias falsas.
O perfil do Submarino na rede afirmou que "bloqueou o site em questão" e que "está tomando providências para que também saia de outros semelhantes". A empresa ainda pede que seja avisada caso o perfil encontre outros anúncios semelhantes.
Vamos lá @submarino pare de anunciar em site que propaga mentiras e desinformação!
Oi, pessoal! Já bloqueei este site em questão. Estou tomando providências para que também saia de outros semelhantes. Caso vejam mais outro caso, podem me mandar, tá? Obrigado por avisarem!
O Banco do Brasil "agradeceu o envio da informação" e comunicou "que os anúncios de comunicação automática foram retirados e o referido site bloqueado", além de declarar que repudia "qualquer disseminação de fake news".
Oii @BancodoBrasil, tudo bem? Realmente é bom ter a facilidade de usar um app em tempo de pandemia, mas não precisava anuncia-lo em um site conhecido por espalhar Fake News e que é contra o isolamento social. Pls considere bloquear!#SleepingGiantsBrasil
Agradecemos o envio da informação, comunicamos que os anúncios de comunicação automática foram retirados e o referido site bloqueado.
Repudiamos qualquer disseminação de FakeNews.
O anúncio do banco estatal irritou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos/RJ), que publicou em seu Twiter que o "marketing do Banco do Brasil pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas".
Marketing do @BancodoBrasil pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas. Não falarei nada pois dirão que estou atrapalhando..... agora é você ligar os pontinhos mais uma vez e eu apanhar de novo, com muito orgulho! Obs: não conheço ninguém do @JornalDaCidadeO
Já o chefe da Secretaria Especial de Comunicação do governo federal (Secom), Fabio Wajngarten, também criticou o movimento na rede social.
"Os jornais independentes são muito importantes e devem ser valorizados no exercício da liberdade de expressão. Agora tenho a certeza, a julgar pela turma que está esbravejando contra, de que o Jornal da Cidade Online faz um trabalho seríssimo. As máscaras estão caindo".
Em resposta ao influenciador bolsonarista Leandro Ruschel, Wajngarten afirmou que "nem toda a comunicação do que é público depende de nós", mas que já estaria "contornando a situação":
Caro @jairbolsonaro e @secomvc , há um banco estatal discriminando site jornalístico, com inclinação conservadora, seguindo mera denúncia sem provas de perfil anônimo, aparentemente ligado à esquerda. É preciso rever essa decisão. twitter.com/BancodoBrasil/ …
@leandroruschel estamos cientes da importância do jornalismo independente. Nem toda a comunicação do que é público depende de nós, mas já estamos contornando a situação. Agradecemos pelo retorno e pode contar com o governo na defesa da liberdade de expressão.
O Jornal da Cidade Online usa um tipo de sistema muito comum em quase todos os sites, chamado "mídia programática". A ferramenta permite que empresas veiculem seus anúncios a partir dos dados dos usuários. Os sites, assim, recebem por visualizações e cliques em anúncios exibidos em suas páginas.
Como funciona a mídia programática
"É importante esclarecer que a grande maioria das compras de publicidade programática acontece de forma automatizada e em tempo real, sem necessariamente a escolha de um site específico onde o anúncio irá aparecer. O foco dos anunciantes é selecionar audiências de interesse e impactar estes usuários pelos distintos canais onde eles estejam", declara Bruno Rebouças, diretor geral da empresa MightyHive.
Para o executivo, muitas vezes, o anunciante sequer sabe que está ali. "O que acontece, provavelmente, é que o site disponibiliza seu inventário de anúncios para as redes de programática e o usuário da campanha estava navegando naquele ambiente", diz.
Segundo Bruno, as marcas podem criar uma lista de sites indesejados, também chamada de blacklist. "Uma blacklist é basicamente uma lista de sites ou aplicativos indesejados que deve ser excluída de toda a compra. Essa lista é totalmente dinâmica, e que os responsáveis pela estratégia de mídia devem estar frequentemente incluindo novas propriedades para exclusão, já que novos sites surgem diariamente", afirma.
domingo, 24 de maio de 2020