segunda-feira, 3 de julho de 2017
RIOVERDEMS | Por PORTAL RIOVERDE NOTICIAS
A 'super TPM' existe e não é frescura
TPM não é frescura. Muito menos o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), uma síndrome severa caracterizada por sintomas intensos, como irritabilidade excessiva, ansiedade e depressão, que acompanham o ciclo e duram até três semanas a cada mês. Segundo informações da BBC Brasil, 5% a 8% das mulheres em idade fértil têm reações tão graves durante o período pré-menstrual que podem ser fatais.
Ciclo difícil
Os sintomas são tão intensos que podem tornar a mulher afetada incapaz de viver normalmente. Laura foi uma delas. Desde os 17 anos de idade, ela sofria com ansiedade e ataques de pânico. Por causa do problema, ela não conseguia manter um emprego estável. “Todo mês, eu me cansava tanto, que tinha que dormir 18 horas durante três dias. Comecei a ter pensamentos suicidas”, contou à BBC.
Diagnóstico
O diagnóstico ainda é um processo complicado. Um médico disse a Laura, hoje com 38 anos, que ela deveria se sentir sortuda por não viver na Idade Média, pois poderiam tê-la queimado como uma bruxa.
Enquanto isso, Sarah, que hoje tem 23 anos, começou a sentir os primeiros sinais aos 14. “Tinha ansiedade e depressão e, com o tempo, psicose. Eu via coisas e também tinha manias.” No começo, ela foi diagnosticada com transtorno bipolare passou um ano sendo tratada para a doença em uma unidade psiquiátrica hospitalar para adolescentes.
“Com frequência, o diagnóstico de TDPM é mal feito”, disse John Studd, professor e ginecologista, para a BBC. “Como os sintomas são cíclicos, os psiquiatras às vezes acreditam que seja um transtorno bipolar, e então as pacientes seguem um tratamento durante anos com terapias e antipsicóticos como o lítio.”
Ser levada a sério
Com Rachael, de 35 anos, os sintomas eram ainda mais desastrosos. Desde os 14, ela tem crises de fúria em que, segundo ela, poderia ter matado alguém. “Eu acordava no meio da noite me sentindo furiosa sem nenhum motivo e começava a quebrar pratos.”
Rachael só começou a entender o que acontecia quando teve acesso a informações sobre a doença, uma década depois. “Eu li e disse: ‘Meu Deus, essa sou eu’. Eu falava para os médicos sobre o que sentia, mas eles me davam somente antidepressivos e medicação para ansiedade.”
Antes da descoberta, ela chegou a largar a carreira como policial e deixar os filhos com a avó por mais de um mês. “Cheguei a um ponto em que eles iriam me internar em um hospital psiquiátrico. Em certo momento, estava dirigindo e me deu vontade de bater contra um caminhão.”
Tratamento e estudo
Segundo Nick Panay, presidente da Associação Nacional sobre a Síndrome Pré-Menstrual, no Reino Unido, leva muito tempo para uma mulher nessas condições ser lavada a sério e conseguir um tratamento adequado. Apesar disso, o problema pode ser tratado.
“[A TDPM] quase sempre é tratável”, disse Studd, que normalmente receita um gel cutâneo, com base em um tratamento hormonal de estrogênio. “Essa é a maneira segura de dominar o ciclo e os sintomas cíclicos.”
No início do ano, um estudo mostrou que parte da condição pode ser genética. “Isso é muito emocionante”, disse Panay. “Uma vez que se encontra um fator genético causador da doença, abre-se a possibilidade de desenvolver um teste de diagnóstico e terapias genéticas específicas. Mas a investigação ainda está em fase muito inicial, então não há perspectivas imediatas de que estas opções estejam disponíveis nos próximos anos. Mas definitivamente há progressos.”
Avanços
“Já não tenho pensamentos suicidas. Quase não discuto com meu parceiro. É uma melhoria de 95%”, contou Rachael, que tem seguido o tratamento com o gel. Agora, ela planeja estudar psicologia. “Eu adorava trabalhar para a polícia e tinha um bom salário. Depois, aconteceu tudo isso e achei que nunca mais voltaria a ser parte ativa e construtiva da sociedade. Por isso agora acredito que meu destino seja ajudar outras mulheres.”
Enquanto isso, Sarah depende de quatro tratamentos para controlar seu ciclo, mas ainda sofre recaídas a cada seis meses. “Fui internada em hospital psiquiátrico duas vezes no verão passado e pensei: isso não pode continuar dessa maneira.” Agora, ela pensa na possibilidade de remover o útero e os ovários. Mesmo com muita gente dizendo que será uma medida drástica e irreversível, ela não a defende. “Não quero trazer ninguém para este mundo para depois causar algum dano a eles ou a mim.”
Com o apoio de seu parceiro, Laura também aguarda a histerectomia, o procedimento de remoção do útero, de forma positiva. “Há coisas que eu sei que posso conseguir. Imagine o que eu posso fazer com quatro semanas no mês”, contou. Ela lidera o projeto Vicious Cycle (ciclo vicioso, em tradução livre), com o objetivo de informar as pessoas sobre a TDPM, e um grupo no Facebook de apoio a outras pacientes.
segunda-feira, 3 de julho de 2017