sábado, 5 de março de 2016
RIOVERDEMS | Por PORTAL RIOVERDE NOTICIAS
Yuri Soledade: ‘Eu sabia que aquela era a onda da minha vida’
No dia 25 de fevereiro de 2016, alguns dos melhores surfistas do mundo em ondas gigantes disputavam o campeonato em memória do surfista Eddie Aikau, o mais tradicional evento da modalidade, na ilha de Oahu, no Havaí. Enquanto isso, Yuri Soledade encarava paredões de água ainda maiores em outra parte do arquipélago norte-americano: Jaws, na ilha de Maui. Algo relativamente comum nos últimos quinze anos de vida do baiano, que, ao lado dos conterrâneos Danilo Couto e Márcio Freire,provou ser possível surfar os paredões de Jaws na remada, sem o auxílio de um jet-ski. Pelo feito, o trio ficou conhecido pela alcunha de Mad Dogs (cachorros loucos, na tradução do inglês).
Desta vez, porém, nem mesmo um dos Mad Dogs teve a coragem de encarar tamanha ondulação sem ajuda. Impulsionado pelo fenômeno climático El Niño, o swell era tão grande que Yuri apostou no tow-in, modalidade em que o surfista é rebocado por uma moto náutica. A decisão não poderia ser mais acertada: o baiano acabou pegando a maior onda de sua vida (embora a medição oficial ainda não tenha sido divulgada). Pelo feito, ele agora concorre ao Big Wave Award, uma espécie de Oscar para premiar os surfistas que encaram as ondas mais monstruosas da temporada. Em entrevista ao blog, Yuri contou tudo sobre a onda que não sai de seu pensamento.
Passada uma semana daquela onda, você já conseguiu sair do estado de êxtase e voltar ao normal? Não, e nem sei se vou conseguir voltar ao normal algum dia. A onda volta à minha mente o tempo todo. A energia que eu senti naquele momento, ao completar aquela onda, me mudou para sempre. É muito difícil descrever essa sensação, mas eu estava em total harmonia com a natureza. Eu consegui usar toda aquela energia do oceano e sair completamente ileso. É uma experiência muito superior a qualquer outra que já tive.
Como você percebeu que aquele dia seria ainda mais especial? Este inverno está excepcional, com um swell maior que o outro desde o início de janeiro. Mas, realmente, o do dia 25 foi histórico. Eu estou no Havaí desde 1994 e nunca vi nada assim. Geralmente, a ondulação se forma no mapa de previsões e, com o tempo, vai perdendo força. Só que no dia 19, quando o Brock Little, lenda das ondas gigantes, morreu, de alguma forma aconteceu exatamente o contrário: o swell começou a ganhar força, cresceu e virou essa monstruosidade. Quem gosta de onda grande espera a vida inteira para conseguir presenciar um momento como esse, então eu só posso estar muito feliz por fazer parte disso.
E como funciona esse momento de espera, de acompanhar as previsões? É um sentimento cheio de altos e baixos. Você vai acompanhando desde o nascimento de um swell e tem horas que fica muito feliz porque será incrível. No entanto, em alguns momentos bate o medo. O medo por você, pelos seus amigos, medo até dos desastres que uma ondulação dessas pode causar. Mesmo com medo, é muito excitante, porque a gente vive para isso, vive para essa adrenalina. É até meio viciante.
Por falar em medo, há espaço para esse sentimento dentro da água, quando você vê uma onda enorme se formando? Pra mim, o medo bate antes de entrar no mar. Quando entro na água, eu esqueço. O pior momento é a noite anterior, quando você não sabe o que vai acontecer. Naquela noite, por exemplo, eu estava ansioso e não dormi nada, mas quando eu entrei no mar, na minha cabeça estava o pensamento de que eu merecia aquilo.