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domingo, 21 de fevereiro de 2016
RIOVERDEMS | Por PORTAL RIOVERDE NOTICIAS

Além da microcefalia: o que é a Síndrome Congênita do Vírus Zika


A médica Adriana Melo é especialista em medicina fetal. Trabalhando no interior da Paraíba, acompanhou a gestação de mulheres que, meses antes, haviam sido infectadas pelo vírus zika e cujos fetos tinham complicações. Surpreendeu-se ao ver seus bebês. Desde o final de 2015, o zika é apontado como a causa mais provável dos casos de microcefalia que pipocam pelo país. O Ministério da Saúde diz estar certo da relação entre zika e microcefalia. Adriana, porém, encontrou outro tipo de efeito. Os bebês nascidos de algumas das pacientes tinham crânio de tamanho normal. Mas não estavam bem. O problema estava escondido – as crianças tinham ventrículos, cavidades dentro do cérebro cheias de líquido, maiores que o normal. Seus cérebros não haviam se desenvolvido.
O professor Rubens Belfort, da Universidade de São Paulo, é especialista em oftalmologia. Em Recife e Salvador, duas cidades com grande número de bebês com microcefalia, Belfort examinou os olhos de uma série de crianças. Descobriu que elas enxergavam mal– segundo o trabalho de Belfort, publicado na revista científica The Lancet, o vírus zika comprometera a mácula ( a região dos olhos que te permite ver com detalhes) de três delas.
O que esses cientistas perceberam é que a microcefalia – a diminuição do perímetro craniano – é somente um dos problemas causados pelo vírus zika. O invasor ainda pode provocar outros danos ao desenvolvimento das crianças. Nem sempre esses sintomas aparecem todos juntos – os bebês de Adriana, por exemplo, não tinham microcefalia. Por isso, hoje, os cientistas preferem falar na existência de uma síndrome. A síndrome congênita do vírus zikaé esse conjunto de sintomas provocados pelo vírus e que os bebês de mães infectadas manifestam logo ao nascer. Essas descobertas podem ajudar no diagnóstico dessas crianças – os médicos passam a ter mais de um sinal ao qual prestar atenção na hora de dizer se algo vai mal. O geneticista Thomaz Gollop, da Universidade de São Paulo (USP), explica o que isso significa.
ÉPOCA: O que é a síndrome congênita do vírus zika?
Thomaz Gollop:
 Uma síndrome é um conjunto de sinais e sintomas, que têm uma causa determinada. No caso, a causa apontada é o vírus zika. A síndrome do zika é um conjunto de sintomas, além da microcefalia, presentes nessas crianças que foram agredidas pelo vírus durante a gestação. É congênita porque os sintomas estão presentes já no nascimento. A microcefalia é somente um dos sinais que essas crianças apresentam.

ÉPOCA: Que sintomas são esses?
Gollop:
 Essas crianças nascem com microcefalia, apresentam dilatação no ventrículo (uma área do cérebro cheia de líquido), têm calcificações intracranianas, problemas auditivos e graves anomalias oculares.

ÉPOCA: Esses sintomas surgem todos juntos, ou é possível que a criança apresente alguns deles e outros não?
Gollop: 
É perfeitamente possível que a criança apresente somente alguns deles. É o que a gente observa em outras síndromes. Nós não sabemos ainda em que período da gestação o zika é mais ou menos perigoso. Se em todos os períodos da gestação o risco é o mesmo, ou se no começo é mais grave. No começo, achávamos que era nos primeiros três meses, em analogia a rubéola. Mas não temos comprovação disso. Dependendo do momento em que a agressão ocorre, o vírus pode alterar o desenvolvimento de uma dada área do cérebro, e provocar alguns sintomas e não os outros.
ÉPOCA: Como o vírus provoca essas alterações?
Gollop: 
O que se observa nas autópsias é que o vírus zika tem atração por tecido nervoso. Isso explica por que ele é tão agressivo no globo ocular e no nervo óptico. Ele causa uma encefalite - uma inflamação do cérebro. Com isso, o cérebro diminui de volume e, consequentemente, ocorre a redução do crânio. O desenvolvimento da caixa craniana é muito dependente do desenvolvimento do cérebro. Se o cérebro para de crescer, ou se diminui o ritmo de crescimento em função de um processo inflamatório intenso, a caixa craniana regride também.
ÉPOCA: Todas as alterações estão presentes ao nascimento, ou é possível que a criança as desenvolva depois?
Gollop: 
O que a gente tem visto até aqui é que as crianças já nascem com um quadro bastante grave e completo. E, dada a complexidade do quadro clínico, as perspectivas de reabilitação dessas crianças são muito limitadas.

ÉPOCA: Saber que o zika provoca uma síndrome muda a forma como lidamos com o problema?
Gollop: 
Uma criança com síndrome da rubéola congênita não é (o mesmo que) uma criança com déficit auditivo. Ela tem síndrome da rubéola congênita -- e pode ter (por isso) déficit auditivo, ocular, anomalias do coração, microcefalia. Pode ter algumas dessas coisas ou todas elas. Mas você não fala "o problema dessa criança é que ela não escuta direito". Você fala "essa criança sofre com síndrome da rubéola congênita". Quando você dá um descritor completo e bem feito, você auxilia a pesquisa, você auxilia a saúde pública. Agora, sabemos que a microcefalia é só mais um sinal do problema. É um sinal importante. Mas, ainda assim, mais um em meio a diversos sintomas. Um número grande de pessoas diz que existe uma multidão de crianças com microcefalia e nenhuma delas com zika. Estão corretas. A microcefalia pode ser causada por uma série de fatores: problemas genéticos, problemas durante o parto, infecção de outros vírus. Se você se preocupa somente em buscar casos de microcefalia, vai encontrar um conjunto grande de casos que não estão relacionados com o zika. O problema é que, se a minha averiguação não é bem planejada, não vou chegar a resultados palpáveis. E o problema do zika pode parecer um problema menor.
domingo, 21 de fevereiro de 2016

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