A
afirmação do presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, de que Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) não terá condições de
comandar a Câmara dos Deputados caso vire réu no processo
da Lava Jato causou insatisfação nesta sexta-feira (28) e desgastou a relação
entre tucanos e peemedebistas.
Deputados dessas duas legendas, que dão
sustentação política a Cunha, disseram ter sido pegos de surpresa com a
declaração de Aécio, dada em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, do
programa "SBT Brasil".
O próprio Cunha, que está em viagem a Nova York,
manifestou grande descontentamento a tucanos mais próximos, entre eles o líder
da bancada tucana na Câmara, Carlos Sampaio (SP). Ele recebeu desses deputados
a garantia de que Aécio iria a público amenizar o tom da declaração.
A assessoria do presidente do PSDB chegou a
anunciar uma entrevistas coletiva de Aécio para a tarde desta sexta-feira,
ocasião em que ele falaria da recessão da economia e de "outros
assuntos", mas a fala foi cancelada.
Ao "SBT Brasil", Aécio afirmou que
com eventual decisão do Supremo Tribunal Federal de aceitar a denúncia do
Ministério Público contra Cunha "fica muito difícil a permanência" do
deputado na presidência da Câmara.
"A aceitação da denúncia por parte do
Supremo [Tribunal Federal] tira as condições, acredito eu, mínimas de condução
da Câmara dos Deputados."
Cunha é acusado pela Procuradoria-Geral da
República de ser destinatário de US$ 5
milhões desviados dos cofres da Petrobras. Caso o
plenário do STF decida aceitar a denúncia, é aberto o processo contra o
peemedebista e ele vira réu.
Integrantes de partidos de esquerda com o
PSOL e o PT pedem o afastamento de Cunha
desde já, mas nos bastidores o presidente da Câmara ainda conta com
sólido apoio, incluindo o dos principais líderes da bancada de deputados
tucana.
Aécio, porém, já havia manifestado em reunião
a portas fechadas com senadores de oposição na terça (25) que era preciso
adotar um discurso mais coerente em relação às suspeitas de corrupção no país.
O PSDB pede a saída de Dilma Rousseff, entre
outras coisas, devido ao escândalo da Lava Jato. Mas vem adotando uma posição
bem mais leniente em relação a Cunha, com apoio massivo a ele, nos bastidores,
por parte dos deputados do partido.
RENÚNCIA
Os principais integrantes da bancada de
deputados do PSDB passou o dia de ontem tentando uma saída para minimizar o
desgaste com Cunha.
Em outros partidos de oposição, o discurso
moderado dos dias anteriores foi mantido, mas com a ressalva de que é preciso
aguardar os desdobramentos.
"Há uma denúncia contra o Cunha, mas tem
que dar a ele o direito de defesa. Que siga-se o rito que se impõe para o caso.
Se houver evidências, ai sim, deve haver o afastamento", afirmou o presidente
do DEM, senador José Agripino (RN).
No PMDB, as declarações de Aécio foram
criticadas.
"O PMDB não concorda com essa leitura. O
Eduardo Cunha não pode esperar solidariedade da oposição e certamente não terá.
É precipitada essa posição do Aécio Neves, já que tem de prevalecer a presunção
de inocência", disse o líder da bancada do PMDB na Câmara, Leonardo
Picciani (RJ).
Nos bastidores, porém, integrantes do partido
já discutem um possível cenário de renúncia, com discussão sobre uma lista
prévia de nomes peemedebistas que poderiam disputar a eleição da Câmara no caso
da saída de Cunha.
Entre os cotados estão o atual ministro da
Secretaria de Portos, Edinho Araújo, que retomaria seu mandato de deputado. O
nome é do agrado do vice-presidente, Michel Temer. Contariam com o apoio de
Cunha Manoel Júnior (PB) e Picciani.
PT
Até o momento, as lideranças partidárias das
maiores legendas têm procurado evitar adesão ao movimento contrário ao
presidente da Câmara. Na última semana, o PT precisou agir em peso para não
permitir que deputados assinassem o manifesto encabeçado pelo PSOL que pede a
saída de Cunha da presidência da Casa.
Ana Perugini (PT-SP) chegou a aderir ao
movimento. Minutos antes da divulgação da lista, porém, ligou para o líder do
PSOL, Chico Alencar (RJ), e pediu a retirada de seu nome.
Mesmo com todos os esforços do líder na Casa,
Sibá Machado (AC), o PT é a maioria dos apoiadores do manifesto "fora
Cunha", com 18 entre os 35 apoiadores.
A cautela do PT foi costurada por Lula, que
chegou a conversar com Sibá na última semana, avaliando que a situação política
na Câmara ficaria "desgovernada" se o partido se voltasse
oficialmente contra Cunha ou liberasse sua bancada para isso.
A mesma avaliação foi feita pelo presidente
petista, Rui Falcão, em jantar na última segunda com o líder do governo José
Guimarães (PT-CE).