O massacre do Carandiru completa 20 anos nesta terça-feira (2) sem nenhum réu condenado à prisão pelo crime de assassinato. O caso ficou conhecido internacionalmente por causa da morte de 111 presos após a Polícia Militar entrar no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, na Zona Norte de São Paulo, para pôr fim a uma rebelião. Para lembrar a data, parentes das vítimas ligados a movimentos sociais e entidades de direitos humanos prometem protestos na capital paulista.Há duas décadas os familiares cobram da Justiça a condenação dos policiais militares acusados de assassinar os detentos. Nenhum agente das forças de segurança ficou ferido na ação. Todos os réus respondem ao processo em liberdade. Alguns se aposentaram e outros faleceram antes mesmo de serem julgados. A unidade prisional foi demolida e, no lugar, foi erguido um parque.
Desde 2 de outubro de 1992, quando a PM fez a incursão ao Carandiru, somente um acusado foi julgado: o coronel Ubiratan Guimarães. Comandante do Policiamento Metropolitano e gerente daquela operação, ele foi condenado, em 2001, a 632 anos de prisão pelos assassinatos a tiros de 102 presos e por cinco tentativas de homicídios, em um julgamento popular em 1ª instância. A condenação do coronel não incluiu nove presos que morreram esfaqueados: a acusação alega que essas mortes foram provocadas pelos próprios presidiários.03 acusados e 117 vítimas.À época, a reviravolta jurídica que absolveu Ubiratan gerou criticas e repercutiu no exterior. Recentemente, as atenções se voltaram novamente para o caso. Na quinta-feira (27), o juiz José Augusto Nardy Marzagão, do Fórum de Santana, marcou para a partir de 2013 ojulgamento dos demais 103 réus no processo.
Segundo a assessoria de imprensa do TJ-SP, 83 deles respondem por homicídio, um responde a homicídio e lesão corporal grave e 19 são acusados de lesão de natureza grave. Para o TJ-SP, 117 presos foram vítimas dos policiais, sendo 111 mortos e um ferido: Edson Xavier dos Santos. Não há confirmação de seu paradeiro. Além disso, outros cinco detentos foram alvo de tentativa de homicídio.Devido ao fato de a Justiça não possuir um espaço apropriado para acomodar todos os acusados juntos, o juiz José Marzagão decidiu dividir o júri deles em, pelo menos, cinco partes. Outra medida foi a de levar o julgamento para o plenário 10 do Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste, por conta da quantidade de réus.
Onde os PMs atiraram
Nenhum policial ficou ferido
Cabeça: 126 tiros
Pescoço: 31
Tronco: 223
Membros superiores: 58
Membros inferiores: 77
O processo corre no Fórum de Santana.Vinte e oito policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), grupo de elite da PM paulista, acusados de matar 15 presos no 2º pavimento, que corresponde ao primeiro andar do Carandiru, serão julgados a partir das 9h do dia 28 de janeiro de 2013.O magistrado dividiu o julgamento com base na ordem da denúncia feita pelo Ministério Público. A Promotoria acusou os policiais por homicídio e lesão corporal grave de acordo com o número de detentos que eles mataram e feriram nos quatro pavimentos superiores do Pavilhão 9.O juiz Marzagão acredita que, até fim de 2013, todos os réus estejam julgados. O planejamento e a expectativa do judiciário são de realizar os julgamentos seguintes em um prazo de três meses. Para tentar dar mais rapidez aos depoimentos das testemunhas e interrogatório dos réus, os júris serão filmados e gravados.
“Optei por desmembrar os plenários e não o processo, que tem 55 volumes e mais de 11 mil folhas. Foi por uma questão de lógica. Além do número elevado de réus, no total, serão cerca de 70 testemunhas de acusação e outras 50 de defesa”, disse o juiz Marzagão