Movimento negro protesta em frente à escola acusada de racismo
Cerca de 50 pessoas representantes de ONGs e associações do movimento
negro fizeram um protesto na tarde desta terça-feira em frente ao
Colégio Internacional Anhembi Morumbi, no Brooklin, bairro nobre da zona
sul de São Paulo. O grupo apoiava a estagiária Ester Elisa da Silva
Cesário, de 19 anos, que denunciou a diretora da escola por racismo, e exigia a implantação da lei 10.639, que determina o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas.
Ester registrou um boletim de ocorrência afirmando que a diretora do
colégio chamou sua atenção duas vezes e sugeriu que alisasse os cabelos
crespos para manter a “boa aparência”. Para o colégio não houve racismo e
a diretora não teve intenção de causar qualquer constrangimento. A instituição tem normas em relação à vestimenta e pede que os funcionários usem uniformes e cabelos presos.
A manifestação foi recebida por estudantes, ex-alunos e pais que
foram prestar solidariedade ao colégio. O grupo aguardava dentro da
escola, mas foi à rua interagir com os manifestantes. Mariana Conde
Sekeres, de 17 anos, uma das organizadoras da defesa ao colégio,
convocada pelo Facebook, afirma que a escola não é racista. "Existe um
padrão de trabalho, não uma discriminação específica com a Ester”, diz a
estudante recém-formada. O engenheiro e pai de aluno Carlos Herculano
Ávila, de 50 anos, destaca que a escola é inclusiva e também avalia que a
estagiária “não entendeu a regra da escola” de usar cabelos presos.
“Estão se aproveitando de um mal entendido para falar mal da nossa
escola. É incoerente alguém que está fora daqui criticar a nossa
educação, sem conviver com a nossa realidade”, diz George Emiliano, de
16 anos, que irá para o 3º ano do ensino médio.
Pais, professores e estudantes destacaram que o colégio sempre
trabalhou temas como inclusão e diversidade racial. Todos que
participaram da manifestação se mostraram ofendidos com o rótulo de
"colégio racista". Segundo os estudantes, o colégio tem um professor e
funcionários negros na administração, segurança e limpeza, e denúncias
de racismo nunca foram feitas.
Racismo x padrão
Para Douglas Belchior, coordenador da União de Núcleos de Educação
Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (Uneafro), movimento
organizador do protesto, existe uma cultura de “não se assumir o
racismo” no Brasil. “Este colégio tem uma chance ímpar de servir de
exemplo pro País inteiro”, afirma.
Luka Franca, 26 anos, negra e militante da Uneafro, avalia que a
escola está reafirmando o padrão branco de beleza ao exigir que as
funcionárias prendam ou alisem os cabelos crespos. “Instituições de
ensino de qualidade são onde deveria acontecer o debate democrático e
onde está se formando a nossa sociedade. É muito grave que casos de
racismo aconteçam nestes ambientes”, aponta.
O tema do protesto era "Soltem os crespos, prendam os racistas". “O
cabelo curto ou alisado não permite que a gente afirme a nossa origem
africana”, explica Vanderlei Victorino, do Circulo Palmariano, movimento
que também estava na manifestação.terça-feira, 13 de dezembro de 2011